sábado, 24 de março de 2012

Rainhas e Ratazanas



À medida em que se vive o ser humano adota distintos significados e objetivos na vida. Ao sair em busca da sensação de completude, do êxito que premiará singulares desafios criamos roteiros desiguais para escrever nossas histórias. Alguns escolhem a luz para guiar o caminho, enquanto outros preferem rastejar-se por sombras. Inigualáveis criaturas que jamais se tornaram semelhantes enquanto metanarrativa. Ao planejar botes, desenhar a melhor estratégia, avançar por paralelos que levem em passo acelerado um caçador até a caça, a de se considerar o mínimo decoro. A escolha por estradas marginais pode significar o fio da navalha até mesmo para espécies hábeis em locomover-se em ambientes totalmente escuros e escorregadios, como bem fazem as ratazanas. A sensação de triunfo e glória nasce (i)restritamente de uma conduta pautada por honradez, nobreza, dignidade, decência e elegância. Tal desempenho não pode ser adquirido por meio de livros ou nos laboratórios das Faculdades. Trata-se de algo orgânico e inerente a determinados seres nascidos sob o decreto de caráter pessoal e original, seres com personalidade constituída. Leonor da Aquitânia foi Duquesa da Aquitânia e da Gasconha, Condessa de Poitiers e Rainha Consorte da França e Inglaterra. Viveu entre os anos de 1122 e 1204, mas, a cultura que ela ajudou a implantar instituiu alicerces de uma filosofia de vida que permanece até hoje. Ironicamente o conceito de “amor cortês” foi introduzido por Leonor nas cortes da Europa, por sua “ãturráge” (conjunto de pessoas que está habitualmente junto de outra, em especial no meio político; círculo). Conforme narrou Helena Vasconcelos, "durante os anos que permaneceu na Corte Francesa como Rainha Consorte, ela introduziu mudanças significativas promovendo o gosto pelo luxo e o culto do prazer. Desenvolveu a noção de “moda” impondo o seu gosto, quando no vestuário surgiram os decotes generosos, as “corsages” que realçavam as formas femininas em vez de ocultá-las, despindo os ombros e a parte superior dos seios". Uma figura de mulher que se destacou ao propor uma mudança radical das mentalidades e dos costumes. Por outro lado, os mesmos castelos que resguardavam tão gloriosas rainhas também abrigavam miseráveis ratazanas. Uma espécie pouco favorecida pela sorte, contudo capaz de penetrar em qualquer abertura. Aprendeu a viver próximo ao ser humano e a tirar proveito das mudanças realizadas no ambiente. Enquanto as rainhas desfrutam dos prazeres de uma mesa farta, à espreita ratazanas aguardam os restos e as migalhas que caem no chão. A natureza é sábia quando assegura: um dominado só se alimenta quando um dominante não está por perto. Atribuem a isto o fato de rainhas viverem décadas, enquanto pobres ratazanas duram no máximo cerca de dois anos. Em grandes cidades, podem viver em esgotos e dentro de casas. São descobertas porque deixam marcas pelo caminho, "linhas contínuas formadas entre suas pegadas ao arrastar sua cauda pelo chão." As ratazanas até servem como recicladoras de matéria orgânica, além de participar da cadeia alimentar de outros animais, mas, como sua população pode atingir altos níveis e trazer sérios riscos à saúde, torna-se necessária certa atenção sob sua proliferação. De fato, algumas criaturas nascem para servir-se do inédito, do extraordinário, enquanto outras comemoram as sobras e entulhos que conseguem juntar pelo caminho. E assim, o lixo descartado por umas se (re)constitui em luxo para outras.



Referências:
http://blogdaspragas.blogspot.com.br/
http://www.storm-magazine.com/arquivo/ArtigosDez_Jan/Artes/a_fev_marco2002_1a.htm

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