Em meio às ladeiras da Tijuca no Rio de Janeiro, aos vinte e oito
dias do mês de setembro de 1942 nascia o “síndico” do Brasil, um simpático gordinho
batizado pelo Senhor Altivo e Dona Maria Imaculada por Sebastião Rodrigues
Maia. Vale Tudo: o som e a fúria de Tim Maia, uma biografia lançada em 2007
pelo jornalista e produtor musical Nelson Motta. Por meio de uma agradável
narração, Motta expõe com maestria a vida turbulenta e a brilhante carreira deste
tijucano que agregou o funk e o soul aos ritmos brasileiros. Um dos primeiros
músicos do país a ter sua própria gravadora e comando total da carreira, Tim
Maia constantemente se via em meio a brigas judiciais com credores, empresários,
músicos e gravadoras. Como não tinha “papas na língua”, pelo bem e pelo mal
acabava por agravar situações naturalmente difíceis. Aos doze anos de idade, ainda
como Tião conheceu Jorge Ben sob o apelido de Babulina, ensinou Erasmo Carlos tocar
violão e em certa feita terminou uma tarde de ensaios do seu grupo musical, Os
Sputniks com gritos de “tu não canta porra nenhuma”. E assim, aos berros, "um
rapazinho magrelo de cabelos crespos e olhos tristes" chamado Roberto Carlos saiu
do ensaio e do grupo de Tião sem dizer uma palavra. Pouco tempo depois Carlos Imperial,
o principal divulgador do rock-and-roll no Rio de Janeiro recomendaria a Tião
que adotasse o nome artístico Tim. Em 1959, após a morte do pai, aos dezesseis anos de
idade e com doze dólares no bolso ele embarcou para Nova York e após cinco anos,
muitas garrafas, incontáveis baseados e cinco prisões foi deportado para o
Brasil. De volta e depois de amargar maus momentos até o reconhecimento do seu
talento, Tim criou a Seroma Edições Musicais e o slogan: “A única que paga aos
sábados, domingos e feriados depois das 21 horas”. Interprete de sucessos memoráveis
como: Primavera, Vale Tudo, Me dê Motivo, Sossego, Do Leme ao Pontal,
Descobridor dos Sete Mares e tantos outros, Tim Maia se consagrou como um dos
artistas mais talentosos do cenário musical brasileiro. Dono de um “corpanzil”
de respeito, réu confesso praticante de “triátlon” e exímio degustador de “bauretes”,
Tim Maia viveu intensamente e queria sempre mais tudo. Os excessos lhe
adiantaram a partida e aos 55 anos de vida, numa tarde de domingo em março de
1998 parava de bater o coração do gordinho mais doidão e simpático da Tijuca. E
eu, após ter acesso a forma autentica que Sebastião Rodrigues Maia escolheu
para escrever sua história tornei-me fã post
mortem.
Referência:
MOTTA, Nelson, Vale Tudo: o som e a fúria de Tim Maia - Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.