domingo, 22 de julho de 2012

O tempo passa e com ele nós também!





Ultimamente ando incomodada com a descoberta que o tempo passa e com ele nós também. Uma variedade de momentos e personagens vão se somando à medida que escrevemos nossas histórias. E assim, uma coleção de idades vai se constituindo em nós sem qualquer possibilidade de intromissão. Esse ritmo (des)controlado impõe certo automatismo em nossas vivências cotidianas, já sustentadas por maliciosa rotina, e, sem perceber boa parte de algo tão precioso como o tempo é desperdiçado com demandas inúteis. De tal modo, acabamos por perpetuar em nós questionamentos pra lá de inférteis. Em recente leitura sobre a sabedoria e os seus mistérios, em Melo (2011) me deparei com a proposta de usar lentes de simplicidade ao olhar para a vida. Nesta direção, o autor narra a simplicidade com que o João-de-barro cumpre seu destino. O pássaro veio ao mundo com uma habilidade natural para construir casas e não desperdiça seu tempo com outros propósitos. Igualmente como os girassóis, que nada mais fazem a não ser virar seu caule em busca da luz solar. Desde então, fantasio o milagre de dormir com a um par de retinas¹ e acordar com outro novinho em folha. A complexidade cansa. Não obstante, aceitar simplesmente a existência do Sagrado requer maiores doses de coragem do que questioná-lo. Há mistérios e perguntas que certamente perpetuarão sobre a imensidão de inquietações que nos habitam. E, ao aceitar este paradigma acerca do Sagrado, talvez diminua a distancia de pelo menos uma légua entre a cegueira e as luzes. Às vezes penso que o olhar da sabedoria é exclusividade dos especialistas em colecionar idades. Não raro nos deparamos com simpáticas Senhoras e Senhores que levam a vida de forma simples e sem grandes urgências. Muitos deles não leram um único livro durante toda a existência, mas apesar disso trazem estampado na face o que vale a pena saber da vida. Seguramente seria mais confortável apenas contemplar a paisagem enquanto caminhamos. No entanto, nossas viciadas visões, ora tão complexas, ora tão complexadas, acabam por sorver aos goles grande parte do tempo. Absolutamente, há coisas que eu gostaria apenas de observar desvestida da pretensão de entender.



¹ Retina: A mais interior das membranas do globo ocular em que se formam as imagens.